por Elaine de Oliveira
“Na intimidade da boca, vamos escolher as formas que se tornarão a nossa forma.” (Jean-Marc Eyssalet)
Muito bem, queridos brasileiros na Holanda, sabem que já estou me sentindo num grupo? Escrever para vocês semanalmente tem sido uma experiência muito gratificante!
O assunto dessa semana é “sabores” e como podemos usá-los em nosso favor. A questão agora é como escolhemos o que vamos comer.
Primeiro critério: qualidade. Qualidade quer dizer alimentos frescos, integrais, de cores vivas e formas bonitas, cheios de energia vital, produzidos e processados de forma sadia.
Segundo critério: variedade. Variedade quer dizer tudo que for disponível no universo de milagres comestíveis da região – cereais (tudo o que nasce em espiga – arroz, trigo, milho, cevada), leguminosas (tudo o que nasce em vagens – feijões, lentilhas, ervilhas, favas, grão-de-bico, soja), raízes, tubérculos, bulbos, verduras, frutas, frutos, castanhas, sementes, nozes, laticínios, carnes, ovos, aves, peixes, mel, temperos frescos (salsinha, coentro, sálvia, louro, cebolinha, etc.).
Critério seguinte: os sabores, é claro. “A erva e a vegetação dão origem às cinco cores*; nada do que é visível pode exceder a variedade dessas cinco cores. A erva e a vegetação também dão origem aos cinco sabores**; nada pode exceder a delícia desses sabores. Os desejos humanos não são iguais: por isso toda a gente os tem todos ao seu dispor.” (Do tratado de medicina interna do Imperador Amarelo.)
Para os chineses o sabor é aquilo que guarda um movimento dentro de uma forma. Olhe em volta: tudo tem forma. Dê uma lambida: tudo tem sabor – a porta, o cachorro, aquele vidro de perfume, a escova de dente, o telefone, o livro. Isso porque o sabor é uma parte infinitesimal da natureza que entra na construção de todas as formas. E nós “na intimidade da boca, vamos escolher as formas que se tornarão a nossa forma” (Jean-Marc Eyssalet).
Vale a pena tentar definir, já que o Aurélio coloca os três como sinônimos, a diferença entre sabor, gosto e paladar?
Paladar é o sentido ligado à boca: certas regiões da língua e do palato (céu da boca), distinguem grosseiramente o sabor, e o olfato contribui com os detalhes. Por isso é que você não sente direito o sabor das coisas quando está resfriado(a).
Gosto é algo mais abrangente, subjetivo, condicionado por moda, cultura, propaganda. Pode até não depender do paladar – não tem aquele papo de que uísque, se vendesse em farmácia, ninguém beberia? Entendeu o porquê dos milhões investidos em marketing? E cerveja, que para nós, brasileiros, é boa gelada, e os holandeses, ingleses e alemães tomam quente? Gostar é muito pessoal, e gosto não se discute, não é mesmo?
Já o sabor é uma espécie de código do alimento, algo que marca aquela forma para sempre e tem o poder de atrair, ou de repugnar. Textura, consistência e aparência geralmente ficam em segundo plano; sentindo o sabor, já sabemos do que se trata. Sabia que as palavras sabor e saber tem a mesma origem latina, sapere? Pois é, e mesmo em Português de Portugal se diz, que o creme de cebola sabe muito bem, ou que o chá sabe a jasmim, legal né? Assim, saborear ganha sentido de explorar, conhecer e saber o sabor, entregar-se completamente à fluidez do paladar. Adoro essas coisas!
E agora, para terminar esse assunto de hoje, vão aqui algumas informações sobre o que os sabores podem fazer por nós:
PICANTES: Ativam a circulação da energia e fazem suar (entendeu o lance daquele bom chá de gengibre?)
DOCES: Acalmam as sensações agudas de desconforto (sabor do afeto e carinho) e neutralizam os efeitos tóxicos de carnes e peixes.
ÁCIDOS: Podem obstruir os movimentos e assim conter diarreias e suores excessivos; aqui se inclui o sabor adstringente, por exemplo, da goiaba.
SALGADOS: Amaciam a rigidez de músculos e glândulas.
AMARGOS: Reduzem o calor do corpo, drenam fluidos corporais e provocam eliminações intestinais.
Há muito o que se falar de sabores e suas sutilezas! Treinar nosso paladar para sentir melhor os sabores é uma experiência incrível! Comer com atenção, sem distrações de celular, TV, sentindo, degustando, usando menos sal e menos açúcar para perceber melhor é um caminho de descoberta e maravilhosas surpresas. Vamos lá?
Nota: * vermelho, amarelo, branco, preto e verde
** amargo, doce, picante, salgado e ácido
Elaine é nutricionista, especialista em Medicina Chinesa e criadora da Coaching Time (membro da ICF-International Coaching Federation)
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Marina Scatolin
05/09/2019 at 16:05Elaine, que texto mais interessante! Adorei sua maneira de lidar com a alimentação, e aprendi muito. Obrigada por compartilhar seu conhecimento!
Giovana Maraschin
08/05/2019 at 13:26E muito bom ler teus textos e aprender sempre um pouco (ou um tanto) mais. Eu sinto que há épocas que como mais salgados. Noutras, sinto falta do ácido e amargo… Muito bom, obrigada!
MELL MAGALHÃES
08/05/2019 at 23:35Que talento em abordar temas essenciais! Tudo perfeito, técnico com toda sutileza que lhe é peculiar. Sempre ensinando mto! Milhares de pessoas precisam ler você! Parabéns e gratidão. Grde Abço.
Elaine
18/05/2019 at 18:50Mell querida! Que prazer saber que vc gostou!
Super abraço!!
Elaine
18/05/2019 at 18:52O corpo é sábio e é importante que aprendamos a ouví-lo!
Obrigada!